Meus Filhos

A Iany Patrícia e
Vavilson Júnior

Estão numa fase temível e deslumbrante
De correntes e paixões,
Em turbilhão.

São uns extrovertidos
Em perpétuos movimentos.
Passam sempre voando pelo nosso apartamento
E vivem com uma impetuosidade ressonante.

No entender deles:
A música foi feita para cantar e dançar;
A televisão para participar,
Os livros para serem atirados longe,
A conversa para ser interrompida e contestada.

Detestam ficar sozinhos,
Mas têm uma independência paradoxal.
Apesar de toda a alegria deles,
Por vezes mergulham num desespero absoluto
E se isolam para indagar das paredes
A verdade sobre si mesmos,
Embora nunca esperem pelas respostas.

Com eles, aprendi mais sobre as pessoas
Do que em todo o resto da minha vida.

Neles, tenho observado, ano a ano,
Os atributos que vão compor a MULHER e o HOMEM,
Desde aqueles montinhos macios, respirantes,
Que vi pela primeira vez no berço,
Ao meu lado, num quarto de hospital
Até estas beldades autoconfiantes
Que hoje assomam ombro a ombro comigo.

Eles me ensinaram também
Algumas verdades sobre o amor:

Que o meu amor por eles
É o fato predominante e indiscutível
Da minha existência;
Algo que nem os humores,
Nem a irritação,
Nem mesmo lampejos eventuais de real desagrado
Conseguem alterar.

É um amor
Feito de orgulho e pena;
Um desejo ardente
De proteger e orientar.

Algo que certamente me levará
A sofrer, a perdoar,
Esperar à chuva
E não fazer perguntas.

By Lou_Mulher Plural_
primavera de 1983